Reforma agrária

Entenda o conflito entre o MST e a madeireira Araupel no Paraná

A Operação Castra é o último episódio da luta pela terra em uma das maiores zonas de influência do MST no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) e Curitiba (PR) |
O fotógrafo brasileiro imortalizou, na série Terra de 1996, as primeiras ocupações nas áreas da Araupel
O fotógrafo brasileiro imortalizou, na série Terra de 1996, as primeiras ocupações nas áreas da Araupel - Sebastião Salgado

Na última sexta-feira (4), o cumprimento da Operação Castra nos municípios de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, localizados no centro-oeste do Paraná, mirou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), elencando uma série de denúncias contra seus integrantes.

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O movimento acredita que o episódio objetiva criminalizar a luta por reforma agrária na região, uma das maiores áreas de influência do MST no país. As reportagens produzidas pela imprensa após a ação da Polícia Civil do Paraná não situam o fato à extensa disputa entre os sem-terra e a madeireira Araupel — conflito que já se arrasta por duas décadas.

A empresa é responsável por 15% da madeira industrializada exportada pelo Brasil. Quando foi fundada, em 1972, a Araupel adquiriu cerca de 80% de um latifúndio de aproximadamente 104 mil hectares dentro das fazendas Rio das Cobras e Pinhal Ralo, que originalmente eram terras públicas.

Em 1996, o MST definiu como orientação e estratégia política que todas as terras griladas que estavam em posse da madeireira seriam convertidas em espaços para assentamentos. Cerca de 50 mil hectares já foram desapropriados, onde foram criados assentamentos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Mas uma área de aproximadamente 25 mil hectares, ocupada por acampamentos de sem-terras, ainda está sob disputa.

A Araupel detém poder político na região e mantém relação estreita com políticos do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Nas últimas eleições gerais, em 2014, a empresa doou R$ 210 mil para candidatos da legenda, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O deputado estadual Paulo Litro recebeu R$ 10 mil; a campanha de Valdir Rossini, atual secretário da Casa Civil do Paraná que, na época, concorria ao cargo de deputado federal, R$ 50 mil; e o atual governador, Beto Richa, R$ 150 mil.

A linha do tempo esquecida pela Araupel

Em seu site, a madeireira apresenta um breve histórico, em formato de linha do tempo, vangloriando-se de benfeitorias na região e esquecendo-se, com exceção das "invasões" de 1998, dos conflitos do campo, processos judiciais pela terra e da luta pela reforma agrária na região do centro-oeste paranaense.

Confira, a seguir, uma síntese da história, que foi dividida em três fases para facilitar a organização dos fatos, com a origem e os principais desdobramentos do conflito na região.

1ª fase (1889-1998)

Tudo começou com a concessão de terras públicas do império para uma companhia ferroviária. Após 109 anos, começava um extenso conflito de terras no centro-oeste paranaense.

2ª fase (1998-2004)

A luta contra a Araupel avança: as primeiras áreas são desapropriadas e as primeiras famílias ocupam as áreas da madeireira de terras são assentadas. Novas ocupações surgem.

3ª fase (2014-2016)

Em um movimento protagonizado pelos filhos de sem-terra, o MST volta a ocupar áreas da Araupel no Paraná. A criminalização do movimento também se intensifica.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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