A comunicação nativa por meio de uma mídia étnica está ganhando cada vez mais força e representatividade. Realizar etnocomunicação é permitir um novo olhar aos processos comunicativos, relações com o público e até mesmo novas estruturas de formato jornalístico pautadas pelas visões da etnia daqueles que a realizam, sejam indígenas, quilombolas, caiçaras, romanis, chineses ou italianos. Pode ser aplicada no cotidiano de qualquer grupo.
Etnomídia é uma ferramenta de empoderamento cultural e étnico, por meio da convergência de várias mídias dentro de uma visão etno. Por isso o uso deste prefixo. Ela é uma forma que promove a descolonização dos meios de comunicação, podendo ser executada por diferentes identidades étnicas e culturais. A apropriação dos meios de comunicar tornou possível aos povos serem seus próprios interlocutores.
A Rádio Yandê é a primeira rádio online brasileira que trabalha com essa forma de mídia. Foi idealizada em 2013 pelos indígenas Anapuaka Tupinambá, Renata Tupinambá e Denilson Baniwa, inspirados pelo Programa de Índio realizado entre 1985 e 1991 por Ailton Krenak. Mas também há outras iniciavas de comunicação indígena na América Latina.
Em sua maioria, elas são comprometidas em trazer entendimento sobre as culturas, cotidiano das comunidades e lutas politicas pelos direitos indígenas. Em um cenário de disputas de terras e diferentes formas de violência contra os povos, essa mídia é necessária para mostrar um outro lado, que não é apresentado pela grande mídia.
Comunique e descolonize
A etnomídia indígena é adotada como estratégia para trazer reconhecimento, visibilidade aos direitos, respeito, notícias de interesse deste público, resgate cultural e principalmente é uma forma de quebrar antigos estereótipos ou preconceitos ocasionados pela falta de informação especializada nos principais veículos de comunicação. Realizar uma comunicação alternativa e diferente da convencional abre um leque de possibilidades que são limitadas na mídia tradicional. É uma mídia livre de alguns formatos preestabelecidos e condicionados às estruturas fechadas no jornalismo.
O imaginário popular ficou congelado na crença de um individuo conhecido pelo nome genérico de "índio", definido assim pelo colonizador a partir de 1500. Contudo, a realidade contemporânea dos povos originários nestes longos anos do processo de colonização é outra. Tradição e modernidade podem ser aliadas na preservação das culturas.
Comunicador nativo
Comunicadores que adotam uma etnocomunicação devem comunicar expressando sua essência étnica e cultural. Um bom comunicador deve desenvolver uma alta sensibilidade além dos cinco sentidos. O objetivo de descolonizar os meios não é apenas na forma de usar essas ferramentas ou produzir notícias de temática indígena, mas também mudar pensamentos reproduzidos por anos nelas.
Uma comunicação ampla envolve diferentes formas de pensar e de relatar as coisas, o que pode parecer poético ou até lúdico para quem não conhece as filosofias nativas. A palavra não é a única maneira de comunicação. Aqueles que compreendem isso passam pelo desenvolvimento de determinados elementos essências que fazem toda a diferença para esse comunicólogo nativo. Ao mesmo tempo que informa, compartilha saberes e fortalece suas identidades.
Renata Machado Tupinambá é jornalista, coordenadora da Rádio Yandê e especialista em etnomídia
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