Uma professora afastada da sala de aula por abordar Marx usando o funk. Outras dezenas são denunciadas e pressionadas todos os dias. O que acontece em nosso país? A humanidade já viveu períodos quando o medo do que o conhecimento podia fazer teve como consequência a queima de bibliotecas inteiras e até de pessoas. A vontade de poucos em manter muitos na cegueira impediu o acesso ao saber, ao contraditório, ao diferente.
Em certa medida, isso se repete em pleno século 21. No momento quando a informação é tão exaltada, nos deparamos com o movimento “Escola sem Partido” – nada mais do que manter o conhecimento sob o controle de poucos.
Este movimento se organiza tendo como representantes membros da elite brasileira. Atrás de uma cortina de fumaça está, na verdade, a escravização das ideias. O lugar da mulher, do pobre, do preto, dos gays, lésbicas e transexuais, onde cada um tem que estar e o que tem que fazer: isto está em disputa.
Que interesses estão em disputa quando se faz a defesa de uma escola “sem doutrinação”? Em primeiro lugar, não é possível a produção e compartilhamento de conhecimento sem uma base histórica e cultural. O conhecimento é tecido nas relações humanas. Decorre daí que é produto de uma concepção de humano e de ciência. Não há como se falar de neutralidade.
Na prática, os defensores da lei da mordaça acham perigoso que as pessoas questionem o atual padrão de produção capitalista, de sociedade de classes, de orientação sexual; acham perigoso a população LGBT defender suas pautas, as mulheres fazerem a defesa dos direitos feministas, o pobre questionar o seu salário e a exploração.
Mas não chegamos ao século 21 contando apenas uma versão da História e não será agora que contaremos. Nossos filhos e filhas têm direito a uma formação integral. Nossa luta na defesa de uma escola de qualidade inclui o acesso a muitos saberes, não será este “movimento” que nos calará.
*Professora da rede estadual e diretora da APP-Sindicato.
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